Vale a pena?: Janela discreta
Prós e contras dos modelos acústicos, projetados para atenuar a poluição sonora das cidades
por
CHANTAL BRISSAC
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Basta falar em lugares barulhentos e o pior cenário que vem à
cabeça é a vizinhança de um aeroporto. Não que não seja; só não é o
único nem o mais sentido em uma metrópole.
Os bairros próximos a Congonhas, na zona sul, são submetidos a ruídos
que alcançam facilmente os 70 decibéis, 20 acima do que a Organização
Mundial de Saúde considera organicamente suportável sem seqüelas.
O problema é que o limite da OMS -50 decibéis- é o equivalente a uma rua
sem tráfego de veículos, o que, convenhamos, deixa a maior parte dos
paulistanos fora do padrão saudável. Sem falar de conversas e gritos
festivos durante a madrugada, música alta, buzinas, freadas etc. Ou das
manifestações do tal melhor amigo do homem.
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Janela
em vidro duplo laminado, com borrachas de vedação em EPDM (material não
derivado do petróleo); o modelo promete reduzir 42dB |
"Alguns barulhos, como os latidos de cães, são os piores de eliminar,
pelo tipo de freqüência, que varia de 20 a 200 Hz para latidos graves e
200 a 2.000 Hz para latidos médios", explica Paulino Lyrio, proprietário
da Acoustic Line. Para se ter uma idéia, uma buzina de carro atinge 125
Hz e um caminhão 1.000 Hz.
Epa!, hertz ou decibéis? Os dois, porque nesta combinação é que mora uma
boa solução anti-ruído. O decibel (dB) mede o volume ou a intensidade
do barulho. A palavra significa um décimo do bel e foi criada como
homenagem a Alexander Graham Bell, o inventor do telefone.
Já o hertz (Hz) é a unidade de medida da freqüência de um som, ou seja,
se ele é grave ou agudo. Quanto mais grave, menor a freqüência; quanto
mais agudo, maior. Para ele usa-se o frequencímetro. É o som que mais
estressa o ouvido humano, quando este é submetido a ele por um longo
período, sem interrupções.
"Por uma herança ancestral, fruto de nossa evolução genética, somos mais
sensíveis às freqüências médias, como as de latidos de cães e cantos de
pássaros", explica o engenheiro e consultor acústico Alexandre
Sresnewsky.
O médico otorrino Mário Munhoz, da Unifesp, explica que o homem não é
capaz de ouvir todas as freqüências, mas apenas aquelas que estão na
faixa sonora que vai dos 10Hz até os 35 Hz. Por isso, recomenda Paulino
Lyrio, da Acoustic Line, é preciso escolher empresas especializadas que
enviem técnicos para avaliar o nível e o tipo de ruído.
Reduzir o barulho dentro de casa está longe de ser um problema
insolúvel, mas esbarra na questão das prioridades na moradia. Se o
conforto acústico estivesse no topo da lista dos consumidores, as
janelas anti-ruído seriam item fundamental de qualquer projeto desde o
início. Bastaria para isso apostar em paredes espessas, lajes bem
vedadas e janelas anti-ruído.
"Mas, infelizmente, o fortalecimento da construção é hoje menosprezado,
em prol de facilidades questionáveis como churrasqueira e ‘lan house’",
afirma Alexandre Sresnewsky.
Ruídos constantes como os de aviões a jato, britadeira, motoserra e
tráfego pesado, na faixa dos 120 decibéis, podem causar dor de cabeça,
danos ao labirinto e até perda auditiva
Por culpa coletiva, é bom dizer. Para as construtoras, dotar as áreas
comuns dos edifícios de equipamentos de lazer é sempre bem mais barato
do que investir em melhorias em cada uma das unidades. Além disso, a
tecnologia anti-ruído dá sossego aos ouvidos, mas não enche os olhos e
encarece o preço final dos apartamentos. Faça uma enquete: quantos
abririam mão da piscina ou do salão de festas para ter uma casa mais bem
acabada e também silenciosa?
O raciocínio, por incrível que pareça, vale até para os bairros vizinhos do supremo vilão, o aeroporto.
"Eu acordo com o barulho dos aviões no meio da madrugada; eles parecem
que vão entrar dentro da minha casa", diz a pedagoga Maria Cristina
Proença, moradora de Moema, uma das áreas mais afetadas. Dependendo do
dia, Congonhas pode funcionar até 1h30.
Conselhos dos especialistas
1. Lembre-se de que, quanto maior a espessura do vidro, melhor o isolamento
2. O vidro laminado oferece melhor isolamento acústico do que um monolítico de mesma espessura
3. O PVB (polivinilbutiral) entre os vidros melhora o isolamento acústico e reduz a influência da freqüência crítica
4. A freqüência de ressonância diminui com o aumento da espessura dos
vidros e o tamanho da câmara de ar que os separa. O vidro duplo insulado
é ideal para isolamento termoacústico
5. Quem quer isolar sons graves, de caminhões, motos, motores e
carretas, por exemplo, deve investir em vidros triplos. Por ter
freqüência de 500 a 40 Hz (médias graves e graves), o ideal é usar
vidros laminados com espessuras diferentes (4 mm ou 5 mm) ou até duplos
com ar no meio e sempre espessuras diferentes
6. Em substituição ao ar seco desidratado obtido no interior da câmara
do vidro, o modelo de vidro duplo insulado com gás é eficiente para
isolar médias e altas freqüências, caso dos latidos de cães
7. Os sons agudos, com freqüência acima de 2.000 Hz, são isolados com vedação perfeita e um vidro de 10 mm no mínimo
FONTES: Alexandre Sresnewsky, engenheiro
acústico; Claudia Mitne, arquiteta e gerente de marketing da Glassec -
Vidros de Segurança; Paulino Lyrio, diretor da Acoustic Line; Paulo
Duarte, arquiteto e consultor.
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Esquadria de alumínio com vidro tríplo |
Com vidros duplos, triplos ou até quádruplos e esquadrias
preenchidas com borracha, lã de vidro ou outro material elástico, os
produtos disponíveis no mercado prometem reduzir em até 70% os ruídos.
"Se forem feitas com vidro laminado (reforçado) e tiverem uma vedação
perfeita, há essa melhora", afirma Paulo Duarte, arquiteto e consultor,
que recomenda vidros com mais de 12 mm em áreas com alta poluição
sonora.
Sresnewsky sugere vidros de no mínimo 10 mm e muito bem vedados, com
caixetas e frisos de alta qualidade. "Qualquer furinho ou fresta põe
tudo a perder", diz ele.
Quem mora em apartamento e não pode alterar a fachada do edifício
encontra opções para serem instaladas pelo lado interno, que podem ser
abertas e que não têm necessidade de quebra-quebra.
Outra vantagem dessas janelas é o conforto térmico -os vidros mantêm a
temperatura interna, economizando energia com a calefação. A desvantagem
é que a pessoa vive praticamente num "bunker", sem abrir uma fresta, e
precisa colocar ar-condicionado para suprir a falta de ventilação.
Sem contar que o preço do silêncio é um tanto perturbador. Em pesquisa
com quatro dos maiores fabricantes, a reportagem constatou que uma
janela padrão, de 1,20 m x 1,20 m, não sai por menos de R$ 1.200. Ou
seja, quem quer todos os cômodos isolados precisa desembolsar uma bela
quantia.
"Mesmo com esse custo, acho que vale a pena", diz a professora de inglês
Adrianna Saldanha, que mora na avenida Nove de Julho e colocou janelas
duplas nos três quartos de seu apartamento. "O som dos ônibus era
infernal. Minha vida é outra depois disso", resume.
Não é exagero. Gerente da Atenua Som, Annie Fischer conta que há
pessoas que chegam em plena crise ao show-room da empresa. "Uma cliente
apareceu aos prantos, dizendo que estava com os nervos à flor da pele
por não conseguir dormir."
O tamanho do barulho* |
Fontes | Hertz | Sintomas |
Jatos, trio elétrico | 130 | 60/300 | Dor, perda auditiva, danos ao labirinto |
Motoserra ou caminhões pesados | 120 | 60/15 mil | Dor, perda auditiva, danos ao labirinto |
Banda de rock ou britadeira | 100 | 500 | Perda auditiva, dor de cabeça |
Furadeira | 81 | 500/1.000 | Perda auditiva, aumenta 25% a taxa de colesterol |
Latidos de cães | 70 | 500/1.000 | Irritação e fadiga |
Rua com trânsito intenso | 80 | 300 | Aumento da pressão arterial e do batimento cardíaco |
Som de escritório, computador | 60 a 70 | 200 | Desconforto, irritabilidade |
* as freqüências podem variar, de acordo com as características da fonte sonora
Retirado de:http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2007/morar2/rf3003200716.shtml